segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Terceiras Pessoas do Singular

"Ele não sabia o que dizer, ela não sabia se queria escutar.
E isso foi tudo por muito tempo.
Acontece, que o tempo acaba, não?
Mas é aquela coisa, quantos tempos existem?
Dois?! Isso não é um jogo, lembre-se disso.
Três?"


Ele estava agitado e isso era claramente perceptível ao modo que suas mãos se mexiam, nos movimentos, na rapidez da moeda deslizando entre os dedos. Estava com os nervos-a-flor-da-pele - e, oh!, era uma pele tão linda. Poucos garotos naquela idade mantinham uma aparência infantil sem parecer inocente demais. Ele não era inocente, na verdade, em muitas coisas era culpado. Culpado por ser tudo aquilo que ele não era e que ele não queria ser. Mas ele era aquilo. E tinha aquilo de querer ser algo mais, querer provar que não é. Provar pra ninguém. Provar pra si mesmo. Provar que existe. Provar o gosto de ser alguém. Alguém pra alguém. Pra ela?

Ela estava calma. Mãos levemente colocadas em cima das coxas de menina pura que sabe mais-do-que-você-pensa. Sabe bastante, entende? Não que toda essa sabedoria estivesse fazendo alguma diferença no momento, mas ela sabia que em algum momento poderia ser útil. Mas a útilidade não tem importância nas horas que o tempo passa devagar e que o vento é tão lento quanto os ponteiros de um relogio digital. Ela não sabia ver as horas. A hora de falar; a hora de ouvir; a hora de ir embora. Ela não sabia o que falar, não sabia o que queria ouvir, não sabia se deveria ficar. Aguém tinha que dizer isso pra ela - "tu não sabe o que quer" - , mas ele não sabia o que falar.

Mas o que realmente tem importância nessas horas? O que é realmente importante? Por que aquilo que a gente acha que é importante, às vezes, não é nada de mais? Ela era importante pra ele, e ele não era nada de mais. As coisas realmente importantes, na verdade, não passavam de algo muito mais comum do que a gente pensa. Muito mais simples. Muito menos complicado. Ele sabia disso, ela não. Ele não sabe mais, ela não quer saber.

Ela: Quer saber?

Ele: Tu não sabe.

Ela: Eu sei disso.

Ele: Eu não sabia.

¨¨
* Desculpa a repetição de palavras e personagens e histórias e sentimentos, mas tudo é sempre tão igual e eu já não me acho tão diferente agora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário