quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Óculos

"Antigamente eu perguntava o que te fazia sorrir.
Tua resposta abria um sorriso no meu peito.
Hoje, pergunto se tu tá feliz.
E você sorri. E só sorri.
Eu espero que teu sorriso não tenha nada escondido".

Eu não sei o que eu escondo aqui dentro do meu peito, acho que escondi tão bem que não sei certo onde tá. Lembro que brilhava. E de tão brilhante que era, me cegava os olhos me impedindo de ver as coisas mais óbvias que jogavam na minha cara. Daí eu escondi todo o brilho dentro do meu peito. Achei que era bom deixar um tempo ali, guardado, até me acostumar com os óculos que eu comecei a usar. Esses óculos mostram coisas que antes eu não via, e confesso que apesar de tanto tempo com eles, ainda me surpreendo quando vejo algo novo. Ah, são tantas novidades!

Porém, esses óculos não são suficientes quando tento achar aquilo que brilhava e que escondi. Daí eu procuro com uma lanterna na mão porque o lugar ficou escuro pra caralho; e procuro com um lenço no bolso, porque o lugar é tão úmido que as minhas lentes ficam embaçadas rápido demais.

Em alguns momentos é necessário soltar a lanterna da mão e pegar o lenço para limpar as minhas lentes. Eu coloco a luz que carrego comigo no chão e retiro meus óculos com cuidado tão grande para não derrubá-los - sinto medo até do vento que corre na minha espinha. Nesse momento, sem meus óculos, vejo um certo brilho lá no fundo da escuridão e tento caminhar até lá, mas parece ter tantas coisas me empedindo de chegar: mesas, cadeiras, sofás, camas, e outros móveis que provavelmente eu coloquei ali.

A cada canto de cada móvel que bato, sinto dores em várias partes do meu corpo. Sinto tamanhas dores que depois de bater e me ferir tanto por não enxergar nada, sinto-me na obrigação de caminhar novamente munido da laterna e dos meus óculos, mas então eu não vejo outra luz a não ser aquela que a minha lanterna projeta, e consigo ver os móveis e lembro o motivo de cada um estar ali. Eu tava construindo uma casa. Uma casa que não era minha. Uma casa que era pra ser o teu lar.

Aí eu penso se não era você que deveria estar aqui procurando no meu lugar. Porque isso que eu escondi aqui era teu.

Sento em uma cadeira que está próxima de mim, retiro meus óculos e desligo a lanterna e fico ali no escuro, observando aquele brilho cada vez mais forte. Eu me escondo pra mostrar o melhor que há dentro de mim. Queria saber se tu ainda consegue enxergar além-do-que-se-vê.

B: Guria, tira esses óculos, teu olho fica bem mais bonito.

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