domingo, 15 de maio de 2011

Fim.

*Desmoronaram as letras e as palavras.
Caiu todo o sentimento que eu construí ao longo do tempo. Todo o tempo que eu achei ter contado no relógio. Pilhas fracas, horas repetidas. São quantos tempos? São quantas horas? Foram quantas horas? Foi quanto tempo? Foi quanto sentimento? Foi muito. Foi todo. Foi pouco. É nada. Um relógio parado. Sem futuro, só com o passado. Resolvi parar no tempo. Resolvi deitar na minha cama com as minhas letras penduradas nas paredes - da mesma forma que um jogador pendura as chuteiras no fim do jogo porque não venceu. Aceito a derrota. Aceito ser o perdedor. Aceito cair. Eu vivo caindo.

*Acabaram todas as canções do rádio.
De novo a culpa é das pilhas. Ou da eletricidade. Talvez das contas que ficaram à pagar. Das memórias que eu nunca irei apagar. Das canções que eu não ouso cantar e não ouso mais ouvir. Da estação que só toca a estática e do trem que nunca vai chegar. Desliguei o rádio e nem pensei em ligar a TV - tu também não está lá. Tu não está aqui e não está nem aí. Aceito a tua falta de estar e a minha falta de ser. Mas a gente poderia, ao menos, dizer alguma coisa, apenas pra canção não acabar com a falta de palavras.

domingo, 1 de maio de 2011

Construção.

Me diz como eu posso seguir em frente, acreditando em um futuro planejado que não passa das sobras de um passado destruído? Não tem como construir um prédio no lugar de outro, que acabou de cair, sem limpar os escombros deixados pelo desabamento. Ou tem?

O desabamento de uma construção pode ser resultado de uma série de coisas; passando por desastres naturais até por destruições programadas por explosivos. No fim, o estrago é quase o mesmo; o que muda é o número de feridos.

A primeira situação, inesperada, pode machucar todas as pessoas envolvidas com a obra - moradores, trabalhadores, visitantes, blábláblá. Um terremoto, um furacão, uma tempestade muito forte. Desastres naturias. Nesse momento é quando tu está dentro e vê tudo tudo desmorando sem ter o que fazer, tentando fugir o mais rápido possível pra não vir ao chão com todas paredes, janelas, portas, tetos e afins. Acontece rápido demais. E você caí. Existe a possibilidade de tu sair com vida e existe a possibilidade de ninguém te encontrar. Tu fica perdido no meio de tanta destruição.

A segunda situação, programada, elaborada e avisada - com ou sem antecedência -, traz um baque maior por ter que abandonar o lar com certa urgência. Guardar todos os móveis e demais objetos pessoais e deixar tua zona de conforto sabendo que em pouco tempo isso não vai mais existir. Deixar algo pra trás sabendo que há outra pessoa derrubando tudo que tu construiu. Procurar um novo lugar, um novo começo.

Mas a minha situação foi diferente. Meu prédio, velho, estava caindo aos poucos e não iria demorar muito para receber o aviso de despejo com a notícia de que bombas seriam colocadas pra evitar a queda causada por estruturas fracas. Porém, não deu tempo de receber o aviso nem tempo de alguma força da natureza se manifestar, ele veio ao chão naturalmente, cansado, fraco, gasto pelo tempo.

Era um dia normal, calmo, com um céu azul e bonito, e eu estava caminhando pelas ruas. Não pude fazer nada. Não vi como aconteceu, não escutei, não senti. Não deu tempo de pensar em guardar algo, de sentar no sofá por uma última vez, de lavar a louça e a roupa suja. Essas coisas não duram muito tempo, é o que fico repetindo para mim. Prédios são descartáveis. Vidas são descartáveis. Memórias são descartáveis.
Cartas são descartáveis. Nada é descartável. Tudo é apenas uma carta fora do baralho. Embaralhe. Dê as cartas. Descarte-as.

Agora tenho a opção de tentar procurar algo que esteja intacto ou jogar os escombros fora ou simplismente contruir um muro ao redor e esquecer o que havia ali - guardar as cartas e esquecer que já fui um perdedor no meu próprio jogo. Me diz, como eu posso seguir em frente se não tenho para onde ir nem onde ficar? Em alguns momentos gostaria tanto de seguir com o meu passado; de ter me deixado pra trás. De ter caído junto. Quem sabe alguém resolvesse me erguer novamente e construir um novo eu. Às vezes acho que sou apenas escombros de um futuro que nunca vai existir.