domingo, 10 de abril de 2011

Loteria.

"A felicidade está nas esquinas. Sentada no chão, esperando o amor."

É pedir muito? É tanto assim e tu não pode dividir comigo? Não sei. Ou sei. Tu sabe? Desconfio que seja egoísmo teu não querer dividir comigo. Desconfio que tu tem tão pouco e tem medo de ficar sem. Mas eu sei o quão cheia você está. Eu consigo ver dentro de ti. Vejo no teu caminhar torto, causado pelo excesso de peso no lado esquerdo, sem equilibrio. Te vi caminhando pela calçada, arrastando-se com um caminhar doído. Te olhei profundamente, e mendigando baixinho, como quem não quer nada, pedi "tem algum amor pra me dar?" Você nem colocou a mão no bolso pra disfarçar: "não tenho nada."

Nunca pedi muito, só quero o suficiente pra ser feliz. Divido teu amor contigo e te devolvo quando tu precisar, e até te daria do meu amor, mas isso me falta. Carreguei o mesmo peso que você, mas eu me doei de mais. Era tanto peso que mal conseguia caminhar. Pensei que tirando esse peso de mim ficaria leve e livre. E fiquei. Fiquei tão leve e tão livre que estou sempre aéreo não conseguindo mais parar em pé no chão e, apesar de ser aéreo, eu não aprendi a voar; vivo caindo em todo lugar; jogado no chão, sentando em qualquer banco, te procurando em qualquer praça. Ando por aí mendigando teu amor e nem recebo esmola.

Tu vive dizendo não ter muito pra dar, mas tu não percebeu que ganhou na loteria? Dentro do teu peito há o bilhete premiado. Egoísmo teu querer só pra si. Faz alguma coisa, gasta com uma risada nova, com outro alguém. Não deixa acumular - teu peito pode estourar assim. E se não quiser gastar todo teu amor de uma vez, me dá uma esmola de vez em quando, eu não sou de pedir muito. Só um pouco de vez em quando, quero juntar o suficiente pra poder comprar uma felicidade que só o amor pode pagar.