terça-feira, 25 de janeiro de 2011

As Palavras Também Usam Máscaras

Fui fazer compras ontem. Fui ao shopping comprar alguma roupa, ou algo assim, pra tentar me sentir melhor. Algo novo, algo que você não conhecesse algo que fizesse você me olhar e pensar algo como "ei, será que isso é novo?" ou qualquer coisa pra deixar você na dúvida de não ter nunca notado ou de não lembrar mesmo da minha roupa nova - que, de fato, tu nunca viu. "Sim, isso é algo novo, não é?". Algo pra me esconder de você; algo pra esconder quem fui e quem sou e ser alguém que tu não conhece e quem eu não conheço, pois já uso algo novo pra ser outra pessoa. Fui fazer compras com esse pensamento. Mas eu não te vejo mais e não te verei mais e assim você não vai ver minha roupa nova nem saberá que há um eu escondido dentro de mim. Não comprei nada. Não consegui. Não sei ser diferente do que fui, do que sou e do que sempre serei. Não sei usar máscaras. Não sei dançar na tua festa, mas as tuas palavras bailam. E continuam usando máscaras.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Blues

"E as outras? Cadê as outras? Quando virão as outras? Elas virão? Eu espero, juro! Espero quieto, prometo! Elas virão, certo? Eu fico aqui em silêncio na espera delas, prometo ficar em silêncio quando elas voltarem."

A parede do meu quarto é azul. Já era assim quando cheguei na casa. Um azul claro que lembra o céu. Mas o céu lá fora não é azul, não agora; agora ele é o céu da noite. Mesmo com a escuridão lá de fora, aqui dentro do meu quarto ainda continua azul - como se o Sol estivesse no teto clareando todo meu recanto. Mas não há sol agora; e não havia sol durante a tarde - as cortinas estavam fechadas e a escuridão pairava aqui nas paredes azuis do meu quarto fechado; às vezes parece que o Sol se esconde mim.

Eu olho pro azul e espero. Eu olho e sinto que sempre há algo a ser esperado, mesmo que a cor da esperança seja verde. Verde não é uma cor bonita. Azul também não - azul é triste. Blue. Blue. Blue. Eu olho pro azul, penso no verde e em como o verde é feio e em como lá fora está escuro e em como está tarde e penso em mim, esperando por aquilo que não sei se virá porque eu não sei que horas são e não sei há quanto tempo estou esperando por essas visitas.

Visitas que não avisam, que não mandam notícias, que não deixaram endereço nem número de telefone. Visitas que eu não ouso chamar o nome pois alguns momentos acho que nunca disseram. São apenas visitas que aparecem e vão e vem e eu nem sei de onde vieram e pra onde foram. Essas visitas, antigamente, eram frequentes. Eu sentava na minha cama e esperava e elas entravam pela porta sem bater, sem avisar, sem fazer barulho e derepente eu sentia-as acariciando meu rosto, fechando meu olhos, se esparamando na minha cama e salgando meus lábios. E como se ouvisse no silêncio elas dizendo "tudo bem, vai passar" e eu sentia que as coisas passavam e que o azul do meu quarto ficava mais belo e mais claro, quase branco.

Eram tardes e noites longas. Nos abraçavámos e nos entregavámos aos problemas como se estrega um doce a uma criança. Nos entregavámos e de repente o tempo já não existia mais e nada tinha importância. Importante eram os abraços na minha cama e o branco das paredes do meu quarto que, aos poucos, iam escurecendo enquanto eu ia fechando os olhos. Escuridão - adormecido. Quando acordava meu quarto já era novamente de um triste azul e a porta já estava fechada e elas já haviam ido embora. Aí eu sento, como estou sentado agora, e espero que elas voltem.

Não sei há quanto tempo estou aqui sentado olhando o azul e esperando que elas abram a porta com brutalidade e me abraçem de maneira selvagem e que me levem junto quando forem embora para que eu viva pra sempre com elas e esqueça essa angústia de esperar o incerto. Mas agora elas não vêm. Não sei o que fazer. Não sei pra onde olhar. Não sei chamar o nome delas - nunca pedi. Não sei o que esperar. Fecho os olhos e espero e começo a soluçar um choro calmo e infantil e, de repente, elas estão comigo novamente. Naqueles abraços e carinhos repetidos até eu cair no sono e acordar sozinho no meu quarto azul escuro sem ninguém além da espera.

Levanto da cama e sou leve, sou suave; sou um corpo vazio a caminhar até as cortinas. Minhas mãos lutam contra a gravidade para abrir as cortinas e abrir um Sol amarelo que deixei escondido fora do meu quarto. Um sol amarelo. Umas paredes azuis. Uma espera verde. A bandeira do Brasil. Eu dou risada alto, rindo amarelo. Abro as janelas e o ar me bate na cara como se fosse um tapa e eu não sinto dor. Não há dor. Há a suavidade desse tapa imaginado no ar. De cotovelos na janela eu olho pro céu que também é azul e entendo que é só uma extensão do meu quarto, que há espera em todo lugar. Então eu sento na janela com meus pés pra fora e espero. E o dia é tão lindo, com um azul claro que lembram as paredes do meu quarto. Eu sou tão azul. Blue. Blue. Blue.