segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Assalto

Silêncio - daqueles em que a gente sabe que algo vai acontecer. Que a gente sabe que quando vier o barulho vai ser mais alto que qualquer explosão, que qualquer tiro. E o silêncio nunca mais vai ser o mesmo. O barulho do peito rasgando, aberto. O barulho da ferida que não vai cicatrizar. Silêncio.

Fui assaltado, assim mesmo, simples. Estava caminhando tranquilamente, talvez com alguma moeda na mão, talvez até assobiando, talvez seguindo com o olhar o cara que passava do outro lado da rua e, de repente: o baque, o choque, o tiro. Uma mão!

Bem simples, idiota. Eu caminhando e de repente aparece uma mão com uma arma na minha frente - pow! O tiro, reto no peito. Não, ainda não!

A mão, obviamente, era a tua. Mesmo que eu não soubesse quem tu era, sabia que era você. Senti certo medo e junto com o medo veio o meu silêncio gritando por socorro. Acho que não gritei, na verdade. Você me olhou e chacoalhou a arma com a mão na minha frente, como quem diz alguma coisa - "Quero tudo que você tem!" Meu desespero rapidamente enfiou minhas mãos nos bolsos, procurando qualquer coisa. Procurou pela carteira, vazia. Não tinha nada. O medo aumentou. O que eu tenho para te dar? - "Não tenho nada!"


Aí sim veio o tiro. E foi rápido. A mão armada na minha frente, apontando pra mim e, logo depois das minhas palavras, o barulho. Não sei se tentei me segurar pra não cair, se lhe dirigi algum chingamento que pudesse aliviar a dor no meu peito. Não lembro disso. Foi só isso: o barulho e a dor no peito.

domingo, 24 de outubro de 2010

Entra

Me fecho dentro de um quarto.
Me fecho dentro de mim mesmo.
Fecho portas e janelas.
Te fecho lá fora; te abro meu peito.
Entra.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Minhas Chaves

Costumava sair pra curtir e passear por ai, olhar coisas sem ter motivo. Saía, assim, despreocupada, olhando sem muito interesse para tudo, e se interessando muito por nada. Voltei pra casa e quando fui abrir a porta me encontrei sem chave. Perdi minha chave de novo. Fiquei do lado de fora do meu próprio lar. Então, você achou.

Achou a chave da minha porta e eu entrei. Deixei a porta aberta e fiquei na entrada. Você ficou ali do lado de fora, querendo entrar. Jogamos conversa fora e não entramos. Daí eu entrei e fechei a porta. Desculpa.

Você não foi embora, ficou ali falando através da porta e entrando pelo buraco da fechadura aos poucos – você não percebeu que eu não tinha trancado? Era só abrir. Mesmo assim, você continuava pingando da minha fechadura e invadindo a minha sala de estar, e quando percebi, você se encaixava perfeitamente com toda mobília e decoração. Como se aqui fosse o seu lugar.

Passou algum tempo e você lembrou que tinha a sua casa, e sem perceber, eu já estava lá. Você tinha me dado uma cópia das suas chaves. Eu estava lá e você estava aqui - estávamos em nossos lugares.

Não sei como nem quando exatamente, mas eu perdi a chave da sua casa e não consigo tirar do teu bolso pra entrar de novo. E a minha porta tava aberta, e você ia saindo. Mas ao contrário do modo que entrou, a tua saída era por fatias e não por pingos.

Então eu percebia você andando pelo lado de fora e visitando outras casas. Outras pessoas. Não sei se tinha a chave desses lugares ou se você era só uma visita. Não sei se ainda tem a chave da sua-minha casa ou se você só estava de passagem. Não sei se a porta ainda está aberta, mas a chave tá na fechadura.

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Dedicado a Marcelly Dias por ter me ajudado com o texto.

domingo, 10 de outubro de 2010

Leve

Leve embora o que sobrou.
Leve todos esses meus pensamentos.
Abre essa porta e te tira daqui de dentro.
Leve embora tuas roupas, teus móveis, teus discos preferidos.
Leve embora tudo que é teu. Me deixa leve.
Me leva pra onde você for.

Leva essa música, traz um sorriso.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fumaça

Do café; do cigarro.

Saindo pelo alto de uma chaminé, numa casa no fim da rua.
Ecoando no céu azul; transformado as nuvens em cinzas.
Escondendo o sol da cidade.
Brincando de esconde-esconde na sombra das crianças.
Na rua. Na calçada. Nos prédios.
Dentro da minha casa - sentada no canto da sala.
Queimando as fotos, apagando as lembranças.

Na xícara. Entre os dedos.