quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Túneis

"Eu sei quem é você, eu conheço o que há dentro de você."
Não, tu não sabe.

Você esteve aqui dentro por algum tempo, caminhando por todas as minhas veias, dando leves passos e deixando pegadas por dentro dos meus pulsos, braços, pernas, cabeça... Andou tanto por aqui que acabou se perdendo - eu achei ótimo. Minha intenção era segurar você aqui pra sempre, andando por dentro das minhas veias; fazendo meu sangue circular.

Tu, aqui de dentro, começou gritar em desespero por passar pelos mesmos lugares tantas vezes e não saber onde estava indo, eram tantas veias e você pegava qualquer bifurcação e acabava se perdendo mais ainda. Em todo teu desespero, começou a correr, e não havia mais gritos a não ser o eco dos teus pés me pisoteando e a tua respiração ofegante.

Você andava por todo meu corpo e isso me deixava inquieto, sem saber se continuava com você por aqui ou se te mostrava a saída, mas você fez algo muito melhor. Passou por todos os lugares sem restrições, sem placas de "pare!" ou faixas de "não ultrapasse", até dar de cara com uma porta fechada. "Não entre". Aviso único. Você parou. Ficou ali observando a porta com uma cara de quem não-sabe-o-que-fazer. Mas tu fez justamente o contrário do que era dito e o mais correto a ser feito, abriu a porta e entrou.

Entrou de maneira tão suave que teus passos eram leves e a tua respiração já estava normal. Tu já não estavas mais perdida e, por fim, chegará ao único lugar que tu nunca havia estado. O lugar onde todo meu sangue deveria ter te levado há algum tempo se você tivesse deixado e não insistisse tanto em andar sozinha. O lugar que você achou tão sem graça por estar vazio e escuro, e acabou saindo e fechando a porta novamente. Tu mal sabes que faltava você estar realmente aqui dentro pra que as luzes acendessem e transformassem esse lugar na mais bela casa que você poderia ter.

Aí você começou a percorrer minhas veias novamente, e os passos que antes eram agradáveis, agora se tornaram passos graves que machucam por onde você passa. Já não é mais cômodo te deixar aqui dentro, mas você está tão perdida aqui que eu não consigo te encontrar pra te tirar desse meu sofrimento, não me conheço tão bem quanto você. Não conheço todos os lugares que você passou por dentro de mim, mas eu conheço o mais importante, e te conheço também, estranha.

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