terça-feira, 7 de setembro de 2010

7 de Setembro

Eu de braços aberto. Tudo que eu lembro é isso. Eu e a merda dos meus braços abertos. E tudo que eu não quero lembrar é você. Você e a merda dos meus braços aberto. E a merda dos meus braços que continuavam abertos esperando por algo. Que merda pensei quando abri os braços? Ah! Quatro letras.

Daí meus braços baixam e aparece a tua boca aberta e algumas palavras tentando formar algum som. O som das bandas marchando foi mais alto e eu não escutei nada. Não precisava. Sabia toda e qualquer palavra que tu dizia, até com os olhos fechados. Sabia em qual sílaba a tua voz iria falhar e em qual ela voltaria a ter segurança. Eu sabia disso. E tudo que eu escutava era a merda dos tambores me deixando surdo.

Aí eu abri os olhos, depois que tu havia parado de falar. O som dos tambores continuava, as pessoas marchando em suas filas mal organizadas, crianças andando feito zumbis, e os cachorros vira-latas perdidos e com medo. Abri meus olhos e não vi nada disso. No momento, qualquer outra coisa que estava ali simplismente parecia ter desaparecido. Não havia ninguém ali. Só eu, meus olhos abertos, sem saber aonde olhar e meus braços perdidos tentando encontrar algo pra segurar. E você. Mas você já não estava ali.

Continuei parado tentando encontrar qualquer outro movimento ao meu redor para que me trouxesse de volta, qualquer coisa. Sentia como se algo estivesse vazando: o ar de um balão furado, pingos de uma torneira aberta, o sangue de um corte. Uma lembrança da memória. Qualquer coisa assim, que vai embora. Eu estava todo nesse sentimento. Tua presença foi embora, tua boca aberta, tuas palavras sem som algum, meus braços nem tentaram te puxar de volta.

De repente eu vi tudo ao mesmo tempo, as pessoas, os tambores e qualquer coisa que estivesse ali em algum momento. E escutei tudo também, todo som minúsculo. Toda essa merda. Todas as coisas ao meu redor, como se eu fosse o único a estar ali. Eu era único. E eu estava parado. Com todos os outros olhares vazios, com todas as outras palavras mudas, com todo o meu corpo sentindo frio. Com meu peito aberto, vazando. Sem você, indo embora.

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