sábado, 4 de setembro de 2010

Cigarros

Começa com aquele fogo e toda aquela fumaça e cheiro do papel queimando. A mão leve em direção à boca meio aberta. Os dentes amarelos, a respiração vazia. O pulmão cinza. O papel queimando. Fumaça. Teus olhos observam tudo isso enquanto a fumaça passa em frente a eles, deixando-os pouco irritados. Vão gravando cada detalhe como se tudo estivesse em câmera lenta. A fumaça se desfazendo no ar, o papel enrolando a química enrugando aos poucos, o suor da tua mão. Tu percebe os detalhes dos lugares ao redor de você, mas isso não se torna importante. O cigarro é a coisa mais importante no momento. O fogo.

A importância vai diminuindo e observar esses detalhes jogados na tua cara se tornam ações já executadas; o fogo vai apagando-queimando no papel, o pulmão mais cheio, a cigarro cada vez menor. A fumaça no ar e as outras coisas não importantes.

Dali um pouco a gente queima o dedo e joga fora. Tu não percebeu a velocidade com que o fumo diminui entre o teu indicador e o dedo de vai-tomar-no-cú - com acento - e, começou olhar uma guria do outro lado da praça, caminhando. Ela caminha e o teu cigarro continua a diminuir na tua mão, mas teu olho não observa isso. Então o calor entre os dedos transforma-se em uma leve ardência: tá queimando. Tu olha e ao perceber o fogo rasgando a pele tu joga o cigarro no chão e diz qualquer palavrão pra aliviar a sensação do inferno dentro da tua mão. Tu volta a cabeça em direção à guria, mas ela não está mais ali.

A boca fechada. Sem fumaça. Só o pulmão cinza. Um cigarro no chão. Uma boca vermelha. Dois dedos queimados. Uma guria que não está mais ali. Só isso. Você pega a caixa do bolso e acende outro cigarro. Quem sabe outra guria apareça. Quem sabe a guria de antes resolva voltar. Tu já se queimou do mesmo jeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário