quarta-feira, 30 de março de 2011

Três Atos.

Primeiro tapa:
Digo que mereci, estou convencido disso agora. Foi preciso. Aconteceu de maneira rápida, nem esperava, nem percebi o motivo de primeira hora e de repente, o baque: meu lado esquerdo do rosto queimando em uma fúria que não era minha; doendo em um vermelho escuro. Doeu e passou. Virei o rosto, segui em frente.

Segundo tapa:
Esse já me confunde. Não sei o motivo e não quero saber, apesar de não ter sido a dor física a que me machucou, mas a dor emocional que me doeu; essa me derrubou no chão e por algum tempo fiquei ali, me doendo e me sentindo. Dessa vez não seria tão fácil como virar o rosto e seguir; dessa vez, tinha que me levantar e encarar olhos negros e, aí então, poder seguir em frente sem olhar pra trás. Doeu mais que o primeiro, mas passou. Segui em frente.

Terceiro tapa:
Não há dúvida: mereci tal dor. Acontece que não fui eu quem recebeu o tapa - físico ou emocional. Eu fui o portador da ação que doeu em outra pessoa. Por duas vezes senti como é ser machucado e ter que seguir em frente sozinho. Agora, machucando outra pessoa, sem saber exatamente o motivo, eu sinto como é dolorido dar um tapa e acertar a si mesmo; como é dolorido machucar e ser deixado pra trás. Doeu e foi embora. Eu fiquei com a dor que é minha - diria até que é minha 'por direito', mas essas coisas envolvem muito mais o lado esquerdo. Sigo em frente com a cara virada pra trás, não quero levar outro tapa do futuro.

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