segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Museu

Olha, desculpa pelo que fiz. Não, não desculpa. Me deixa sofrer, diz que a culpa é toda minha e me prende e vai embora. Sim, vai-te embora porque eu não quero te ver nunca mais porque eu fui culpado e não quero que você me desculpe. Não, não quero. Quero pagar pelos meus erros assim como pago as contas de água, de luz e de telefone. Quero deixar as contas vencerem e pagar os juros e ser um perdedor e quero que tu me culpes. E que me dê um tapa na cara e diga que eu fui um idiota.

Porque no fim eu sou idiota mesmo; e sou idiota desde o começo. Minto. Eu não sei onde isso começou, não sei há quanto tempo venho sendo esse idiota que tu conhece ou que conheceu e que não sabe mais quem sou, pois tu não me vê mais.

Tu não me vê porque eu me escondo nas esquinas que tu cruza e fico observando você olhar para os dois lados antes de atravessar a faixa pra não ser atropelada e eu fico admirado com o jeito que você desvia dos carros e imagino como eu desviaria meus olhos dos teus, caso tuas jabuticabas me encontrassem parado na esquina. Aí eu pergunto se tu irias continuar atravessando a rua ou se pararia e seria atropelada por um gol vermelho ou um corsa azul e como eu me sentiria culpado sabendo que a culpa de tudo que aconteceu foi minha porque eu te vi naquele segundo andar quando eu subi as escadas marrons do museu para ver quadros que nunca entendi e que tentei te explicar pra mostrar que eu era um cara legal.

Desculpa guria, mas seria melhor se não tivéssemos cruzados olhares, braços e línguas e continuássemos a cruzar as esquinas olhando para outros olhos e para outros lados para evitar toda essa desgraça de estar preso dentro de ti e de não saber o que os quadros significam.

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