domingo, 14 de novembro de 2010

Todo meu amor.

Daquelas coisas que perco tentando procurar. Nas memórias mais escondidas. Das coisas do meu passado que nego, mas que são visíveis até por quem não enxerga o que há aqui dentro. Essas memórias e esse passado e essas perdas explodem meus ossos, minhas veias, minha pele, minhas roupas e explodem todas as paredes que crio para tentar sufocar tais sinais vitais. Crio paredes; crio quartos e salas sem janelas, pra não deixar a luz entrar. Pra ser escuridão. Mas esqueço a porta; fica o buraco aberto. E é por ela que tu entras.

Entra assim, fria, sem dizer nada e sem fazer barulho algum. Em alguns momentos sinto falta da segurança que o teu calor proporcionava. Sinto falta até do som dos passos teus por aqui - agora você flutua. Não. Talvez eu tenha construído as paredes e esqueci-me do chão. Esqueci que preciso pisar em alguma coisa, ter algum lugar pra bater a cara na hora que cair. Porque a queda é grande e eu sempre me espatifo no chão. E acha que nunca mais vou levantar. Mas pra mim não há chão. Só o penhasco dentro de quatro paredes. Eu fico caindo uma eternidade, e você flutua dentro de mim.

Comparação: é como se todo meu sangue estivesse correndo fora das minhas veias, mas não há nenhum corte no meu corpo que o liberte, que o deixe fluir para fora das minhas paredes celulares e que deixe a vida escapar de dentro de mim. Assim é a dor que sinto - ou que finjo sentir. Não há feridas para cicatrizar, não há sangue para ser estancado. Não há band-aid que consiga entrar no peito.

Há uma saída além da porta. Há toda a dor além do corte. Há um gatilho esperando o dedo. Há uma bala, doce como um beijo. Há o tiro e a morte de todo meu amor.

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