Daquelas coisas que perco tentando procurar. Nas memórias mais escondidas. Das coisas do meu passado que nego, mas que são visíveis até por quem não enxerga o que há aqui dentro. Essas memórias e esse passado e essas perdas explodem meus ossos, minhas veias, minha pele, minhas roupas e explodem todas as paredes que crio para tentar sufocar tais sinais vitais. Crio paredes; crio quartos e salas sem janelas, pra não deixar a luz entrar. Pra ser escuridão. Mas esqueço a porta; fica o buraco aberto. E é por ela que tu entras.
Entra assim, fria, sem dizer nada e sem fazer barulho algum. Em alguns momentos sinto falta da segurança que o teu calor proporcionava. Sinto falta até do som dos passos teus por aqui - agora você flutua. Não. Talvez eu tenha construído as paredes e esqueci-me do chão. Esqueci que preciso pisar em alguma coisa, ter algum lugar pra bater a cara na hora que cair. Porque a queda é grande e eu sempre me espatifo no chão. E acha que nunca mais vou levantar. Mas pra mim não há chão. Só o penhasco dentro de quatro paredes. Eu fico caindo uma eternidade, e você flutua dentro de mim.
Comparação: é como se todo meu sangue estivesse correndo fora das minhas veias, mas não há nenhum corte no meu corpo que o liberte, que o deixe fluir para fora das minhas paredes celulares e que deixe a vida escapar de dentro de mim. Assim é a dor que sinto - ou que finjo sentir. Não há feridas para cicatrizar, não há sangue para ser estancado. Não há band-aid que consiga entrar no peito.
Há uma saída além da porta. Há toda a dor além do corte. Há um gatilho esperando o dedo. Há uma bala, doce como um beijo. Há o tiro e a morte de todo meu amor.
domingo, 14 de novembro de 2010
Todo meu amor.
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esse ultimo parágrafo me emocionou D:
ResponderExcluirótimo texto