quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Minhas Chaves

Costumava sair pra curtir e passear por ai, olhar coisas sem ter motivo. Saía, assim, despreocupada, olhando sem muito interesse para tudo, e se interessando muito por nada. Voltei pra casa e quando fui abrir a porta me encontrei sem chave. Perdi minha chave de novo. Fiquei do lado de fora do meu próprio lar. Então, você achou.

Achou a chave da minha porta e eu entrei. Deixei a porta aberta e fiquei na entrada. Você ficou ali do lado de fora, querendo entrar. Jogamos conversa fora e não entramos. Daí eu entrei e fechei a porta. Desculpa.

Você não foi embora, ficou ali falando através da porta e entrando pelo buraco da fechadura aos poucos – você não percebeu que eu não tinha trancado? Era só abrir. Mesmo assim, você continuava pingando da minha fechadura e invadindo a minha sala de estar, e quando percebi, você se encaixava perfeitamente com toda mobília e decoração. Como se aqui fosse o seu lugar.

Passou algum tempo e você lembrou que tinha a sua casa, e sem perceber, eu já estava lá. Você tinha me dado uma cópia das suas chaves. Eu estava lá e você estava aqui - estávamos em nossos lugares.

Não sei como nem quando exatamente, mas eu perdi a chave da sua casa e não consigo tirar do teu bolso pra entrar de novo. E a minha porta tava aberta, e você ia saindo. Mas ao contrário do modo que entrou, a tua saída era por fatias e não por pingos.

Então eu percebia você andando pelo lado de fora e visitando outras casas. Outras pessoas. Não sei se tinha a chave desses lugares ou se você era só uma visita. Não sei se ainda tem a chave da sua-minha casa ou se você só estava de passagem. Não sei se a porta ainda está aberta, mas a chave tá na fechadura.

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Dedicado a Marcelly Dias por ter me ajudado com o texto.

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